Comprar um imóvel em Cabo Verde é um processo relativamente direto para estrangeiros, desde que se respeitem boas práticas de due diligence e se conte com assessoria local competente. Este guia explica, de forma objetiva, cada etapa: da escolha da ilha e do bairro ao CPCV (Contrato-Promessa), verificação de títulos e registos, cálculo de custos e impostos, preparação da escritura e arranque da operação de arrendamento (quando for o caso). Para entender o contexto macro antes de avançar, vale conferir por que o mercado está em alta em 2025. Este guia resume o essencial para decidir onde comprar, que tipo de ativo escolher e como fechar com segurança — do CPCV à escritura, da vistoria técnica à gestão profissional que converte chaves em rendimento.
1) Decida onde e o quê comprar
Antes de ver contratos, alinhe tese e localização:
- Sal/Santa Maria: praia, vento, ocupação alta na época de inverno europeu (T0–T2 próximos da praia performam melhor).
- Boa Vista: resorts e natureza; foco em produtos family-friendly e varandas/terraços.
- São Vicente/Mindelo: cultura, música e base perfeita para workation.
- Santo Antão: trilhas e natureza; pousadas/aparthotéis boutique.
- Santiago/Praia + Cidade Velha: estadias mistas (negócios + cultura).
Quer comparar perfis culturais e de estilo de vida? Veja este comparativo honesto entre Santiago e São Vicente (EN).
Tipo de ativo: apartamentos T0–T2 (liquidez e ocupação), moradias (uso próprio + rendimento seletivo), off-plan (potencial de valorização, maior necessidade de controlo contratual).
2) Estruture a equipa certa
- Advogado local (indispensável): verifica titularidade, ónus, registos, redige/valida contratos.
- Mediador/agência: acesso a inventário e negociação.
- Perito/engenheiro (imóvel pronto): vistoria técnica (estrutura, instalações, humidade/salinidade).
- Gestor de propriedades (se for arrendar): operação chave-na-mão e reporting mensal.
3) Due diligence jurídica e técnica
Peça ao advogado:
- Certidões do registo predial e caderneta do imóvel/terreno.
- Confirmação de propriedade plena, ausência de ónus e situação fiscal regularizada.
- No off-plan: licenças, alvarás, cronograma de obra, conta-garantia, cláusulas de atraso/penalidades.
Peça ao perito:
- Estrutura (fissuras, corrosão), canalização, eletricidade, isolamentos (humidade, maresia), caudais de água, ventilação e conformidade das áreas.
4) CPCV (Contrato-Promessa) e sinal
O CPCV fixa preço, prazos e condições:
- Sinal: percentagem acordada (guarde comprovativos).
- Condições suspensivas: aprovação de financiamento, obtenção de documentos, prazos de obra (no off-plan).
- Garantias: multas por incumprimento, retenção de valores, prazos máximos de entrega.
- Memória descritiva do que será entregue (materiais, equipamentos, lugares de garagem, arrecadação).
Dica: inclua anexos com plantas, áreas e specs; evite ambiguidades.
5) Escritura em cartório e registos
- A escritura é realizada em cartório; o advogado confere identidades, poderes e documentos.
- Após a assinatura, procede-se ao registo de propriedade em nome do comprador.
- Pagamento: normalmente por transferência bancária (comprovativos anexados à escritura).
6) Custos e impostos (estimativa geral)
Planeie além do preço do imóvel:
- Impostos e emolumentos (escritura, registos): em regra, ~3–5% do valor do imóvel (varia por tipologia e ilha).
- Advocacia e peritos.
- Mobiliário e fit-out (para arrendamento): enxoval, eletrodomésticos, ar condicionado.
- Seguros (multirriscos; vida caso haja financiamento).
- Condomínio e manutenção (limpeza, pequenas reparações).
Boa prática: crie uma reserva de 6–12 meses para despesas fixas (condomínio, seguros, impostos locais).
7) Financiamento: opções possíveis
- Banco local: análise conservadora; LTV moderado; exige documentação sólida.
- País de origem: home equity / crédito imobiliário; atenção a câmbio e indexadores.
- Developer financing (off-plan): parcelamentos contratuais; reforce garantias e prazos.
Para ver condições e cautelas do ponto de vista europeu, vale esta leitura em francês sobre crédito “facile” para estrangeiros (FR).
8) Se vai arrendar: preparação da operação
Para maximizar ocupação e reviews:
- Localização a pé da praia/centro; Wi-Fi estável e A/C; varanda/terraço; boa insonorização.
- Fotografia profissional; listing com copy clara, regras da casa e calendário vivo.
- Gestão profissional (check-in/out, limpeza, manutenção, resposta rápida).
- Preço dinâmico (época alta/baixa); estadias mínimas estratégicas.
Em mercados de praia, T0–T2 bem equipados tendem a ter melhor ROT (retorno/tempo).
9) Cronograma realista (exemplo)
- Semana 1–2: definição de tese/localização e shortlist de ativos.
- Semana 3–4: due diligence jurídica + vistoria técnica.
- Semana 5: CPCV e pagamento do sinal.
- Semana 6–10: preparação de financiamento/documentação (ou developer financing).
- Semana 11–12: escritura, registos e entrega de chaves.
- Semana 13–16: fit-out, fotografia, publicação de listings e início da operação.
10) Checklist final (copiável)
- Advogado e perito contratados
- Certidões/registos verificados
- CPCV com prazos, penalizações e memória descritiva
- Plano de financiamento (ou alternativa) validado
- Orçamento completo (fecho + fit-out + seguros + condomínio)
- Seguro multirriscos ativo
- Gestor de propriedades com contrato e SLAs
- Fotografias pro e listings publicados
- Plano de preços por época e canais de venda
Conclusão
Comprar um imóvel em Cabo Verde é unir estilo de vida e rentabilidade — desde que o processo seja metódico: due diligence rigorosa, contratos claros, equipa local competente e números conservadores. Para alinhar execução com visão, complemente com este playbook estratégico 2025 (EN). Ao transformar desejo em plano executável, a compra deixa de ser um salto no escuro e passa a ser um projeto sustentável.